quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O futuro das grandes festas: Entrevista exclusiva com o pessoal da Tribe

2010 começou com toda força para a cena eletrônica brasileira. O complicado vai ser determinar para que lado está indo essa força... se é que o público me entende. Festas grandes se unindo, parcerias se desfazendo, proibições (ainda!!) rolando por aí... Aonde isso vai parar?

A velha polêmica do psytrance permanece, com sua perda de espaço na cena. Já pode ser considerado uma vertente mais underground, depois da sua fase mais pop? Bom, nas open airs, assim como nos clubes, outros BPMs têm dominado as pistas há tempos, mas a batida seca do full on ainda se mantém firme no palco principal dos principais eventos (ao menos em alguns horários), e na boca da galera que realmente curte o estilo.

E acontece também que a música eletrônica cresce, e cresce mesmo, dia a dia. Ganha mais espaço, onde quer que seja, e nos mais improváveis ambientes. Só que ela é mutante, e não estática. E é por isso mesmo que as vertentes se modificam... e acrescentem umas às outras.

Querendo saber o que está acontecendo com a nossa cena, como detalhes de parcerias, futuro das festas, o que pensa quem está na cena, sobre a cena, e muitas outras coisas mais que estão rolando, estamos realizando algumas reportagens e entrevistas, com o intuito de deixar você a par de tudo. Ou ao menos tudo o que for possível.

Junte-se a nós nessa empreitada, onde buscamos entender melhor da onde veio e para onde estão indo nossas festas. E toda a cena. O futuro é incerto, mas para ajudar a desvendá-lo, nada melhor do que conhecer o presente e saber mais sobre o passado.

Então, já de início, apresentamos essa entrevista (por email) com o pessoal da Tribe. Ou melhor, da produtora It’s Magic. Desde o (relativamente) misterioso rompimento com a No Limits, a Tribe tem sido uma incógnita. Já saiu até um boato de que mudaria de nome. Problemas legais? De visão? De estratégia? Você já deve ter ouvido o jargão: “Tribe, é Tribe! Sua energia é única, mas ela já está deixando de ser a Tribe”...

Acompanhe o que Rafael, Monty e Ariel Dahan, juntamente com o sócio Du Serena, falam sobre sua “cria”, sobre o que vai rolar no futuro, sobre essência, a cena forte e as datas para esse ano. Já tem até Tribe marcada, e nós trazemos em primeira mão! Foi dito o que eles acharam que poderiam e deveriam falar, diretamente para o público que frequenta suas festas. Saiba para onde está indo a grandiosa Tribe, e o que pensam seus idealizadores:

PSYTE: Primeiramente, gostaria de saber a que vocês creditam o sucesso dos low BPMs nas festas, de uns tempos pra cá...
EQUIPE IT'S MAGIC: A pergunta é importante mas precisa ser traduzida melhor. O que se chama de low bpm engloba muita coisa diferente, no caso tudo que não seja Full On Trance. Acaba sendo uma generalização que nos afasta de uma compreensão melhor. Não dá pra dizer que Techno ou House sejam novidades, pelo contrário, são raízes. Então a pergunta poderia ser: porque o Techno / Progressive / House etc, ditos "low bpm" ganharam, ou criaram novos espaços em festas open air?

Esta é uma convergência onde não é necessário separar tanto os públicos por vertentes, onde existe uma paixão e um interesse pela música eletrônica de uma forma mais ampla. Além disso, estilo musical e formato de festa são coisas distintas, por isso um formato de festa que ficou mais associado ao Trance não precisa ser necessariamente apenas Trance. O que houve foi um encontro entre o jeito tranceiro de curtir e fazer festa com outras vertentes que não o Trance.

Não podemos esquecer que a música, não apenas eletrônica, é cíclica, nunca fica parada no mesmo ponto. No caso da eletrônica isso é ainda mais dinâmico e vivo. Esses diferentes estilos "low bpm", conversam muito entre si e outros estilos musicais, não eletrônicos inclusive. É um campo mais aberto musicalmente. Por exemplo, é muito mais fácil mesclar House , Techno ou Progressive entre eles num line up ou até num set do que com Trance. Acho que isso ajuda a explicar esse sucesso.

PSYTE: Em 2010 a tendência continuará essa?
ITM: Sim, se você quer dizer tendência nesse sentido de convergência, acreditamos que vai continuar se aprofundando.

PSYTE: Com que propósito a Tribe foi criada? Este foi alcançado?
ITM: A Tribe não foi criada com um propósito específico. Surgiu como expressão livre de um grupo de amigos que se uniu para proporcionar aquela proposta de “encontro” para eles mesmos e seus amigos.
É muito difícil dizer o que imaginávamos que a festa viria a ser. Não pensávamos a longo prazo, mas sempre focados na próxima festa e novas idéias e necessidades iam surgindo de uma edição para a outra.

PSYTE: Pontue um ponto alto e um ponto baixo da caminhada de vocês...

ITM: Podemos dizer que a melhor coisa que rolava naquela época [nas primeiras Tribes], além da festa em si (claro!) era o feedback altamente positivo das pessoas, dos amigos, depois de uma festa. Era isso o que mais nos motivava e como nos primeiros anos isso acontecia em 100% das oportunidades, talvez tenhamos imaginado ingenuamente que seria sempre assim.

Com o tempo aprendemos que além dos erros que às vezes cometemos, também muitos fatores não estão sob o nosso controle, como a natureza e o comportamento das pessoas durante uma festa. E sem dúvida esses são fatores cruciais para o sucesso de um evento open-air. Ele não depende só da organização e infelizmente qualquer um deles pode prejudicar muito uma festa.

Assim, tivemos que aprender a lidar também com a frustração de que nem sempre uma festa acontece como imaginamos, planejamos e gostaríamos e que passar por momentos difíceis faz parte da evolução natural de um evento que hoje caminha para completar 10 anos de história.

PSYTE: Como aconteceu a união com a No Limits? De quem partiu a ideia, qual era o propósito, e este foi alcançado?
ITM: A ideia foi nossa. O propósito era que a produção executiva do evento fosse tocada por uma outra produtora, focando todos os esforços da ITM para a Tribe na parte conceitual e artística. Dessa forma poderíamos atender a demanda pela Tribe em outros estados sem perder em qualidade, que sempre foi a marca da festa.

PSYTE: Porque a parceria terminou de uma hora para outra?
ITM: A parceria não terminou de uma hora para outra, foi um processo através do qual as empresas chegaram a essa decisão. É claro que na hora que isso é comunicado ao público a comunicação é simples e objetiva, mas isso não significa que a decisão foi tomada repentinamente, de forma alguma.

PSYTE: Vocês consideram que, de alguma forma, a essência da Tribe foi perdida, ou ao menos deixada de lado, devido à união com a No Limits?
ITM: A essência da Tribe não foi perdida ou deixada de lado. Neste período de 2 anos, que teve início com a Tribe Rio em out/2007 e que terminou na Tribe Curitiba out/2009, erros e acertos foram cometidos, o que é natural.

Houve grandes momentos nesse período, como a realização do sonho de trazer o Alex Grey (Tribe 7 Anos), com aquela fantástica cenografia e comunicação que acompanharam a turnê daquele ano e também a Tribe 8 Anos pela Paz. O Minuto pela Paz foi sem dúvida um dos mais incríveis momentos da Tribe, pelo que agradecemos de coração ao público até hoje.

Mas é claro que no momento em que são duas produtoras realizando a festa e não apenas a ITM, como sempre foi, isso influencia muito o evento, é inegável. E o mesmo pode ser dito para o atual momento. Sendo apenas a ITM a produzir a Tribe agora, isso também irá influenciar e muito no futuro da festa.

Faz parte da estratégia da ITM reforçar os valores que estão presentes no DNA da Tribe. Queremos e vamos buscar sempre proporcionar uma festa com muita qualidade, em que o público possa vibrar com novidades, sentindo as raízes da Tribe e celebrando em Paz.

É apenas assim que nós, também, teremos motivos para celebrar.

PSYTE: Quais foram as razões da edição especial de aniversário da Tribe não ter ocorrido ano passado? Dizem que foi por causa de problemas com os antigos sócios...
ITM: Exatamente porque o antigo modelo havia se esgotado e sentimos a necessidade de parar para pensar. Ninguém aqui quer fazer Tribe por fazer. Está explicado com toda a sinceridade no comunicado oficial divulgado na época.

PSYTE: Como sabem, houve um boato de que a Tribe mudaria de nome. Isso é 100% mentira?
ITM: Desconhecemos como surgiu este boato. Quanto à questão de nomes, o que acontece é que surgiram novas denominações, derivadas da Tribe. Existe o Tribe Club, a Tribe onBoard, a Tribe em Ação, a Tribe Alex Grey, a Tribe PsychoGarden, a Tribe da Paz. Com certeza sempre haverá um novo conceito e um novo nome para batizá-lo. A It’s Magic é uma produtora de eventos e produz outros eventos, além da Tribe, com os mais diversos nomes e marcas.

PSYTE: Como ficará o calendário da festa em 2010 e quais novidades o público pode esperar?
ITM: Quanto às festas Tribe, confirmada apenas a Tribe BH, que ocorrerá em Maio. A Tribe BH 2009 nos deixou muito felizes e realizados. Tudo isso nos dá a segurança de um grande evento em BH em 2010. Nos próximos dias estaremos divulgando os releases do evento. Seguramente alguns novos conceitos já estarão presentes, ainda que embrionariamente.

Quanto à Tribe 10 anos, ainda está em processo de gestação. Acreditem, estamos mais ansiosos que ninguém. Ocorre que produzir esta Tribe, está sendo um intenso processo de criação, reflexão e debate. Não vamos fazer a Tribe apenas para cumprir uma meta no calendário. Por isso é que a Tribe é a Tribe. Quando acontecer, ela será, mais uma vez, um marco, e uma referência na cena brasileira e internacional da Música Eletrônica e da Cultura da Paz.

PSYTE: Como criadores do Solaris Festival, vocês consideram que os festivais mantêm mais a essência psicodélica do que as grandes festas?
ITM: Produzir o Solaris Festival foi uma das mais gratificantes experiências que tivemos, nas duas edições. Daí a dizer que os festivais mantêm mais a essência psicodélica que as festas há uma diferença enorme. Cada tipo de evento tem uma característica e uma possibilidade única e diferente. Cada um pode se aproximar mais ou menos da essência psicodélica conforme a qualidade e amor com que seja produzido e vivenciado. Não podemos esquecer que os frequentadores também são parte integrante desta equação e definem a qualidade do evento também.

Esta é uma comparação inadequada, é como comparar rádio com televisão; qual dos dois comunica melhor? Ambos comunicam de maneira diferente, para necessidades e possibilidades diferentes. É uma comparação injusta. Os festivais proporcionam uma imersão e uma liberdade de expressão que dificilmente uma festa de um dia, perto de uma grande cidade, pode proporcionar. Isso não quer dizer que qualquer festival entre automaticamente nesse exemplo apenas por ser um festival e vice-versa no caso das festas de um dia. Afinal estamos falando de essência e não de forma.

PSYTE: O que é a essência psicodélica, na visão de vocês?
ITM: É importante fixar o fato de que a chamada essência psicodélica nasce com a Cultura da Paz, a qual é uma das mais importantes expressões no mundo moderno. Estar próximo da essência é vivenciar e transmitir a Cultura da Paz na Terra, e isto pode ser feito de muitas maneiras. Todas válidas e necessárias. Podemos fazer isto numa pequena ou grande festa, num festival urbano, num festival longo, longe do movimento das grandes cidades. Para que chegue o dia em que a Paz esteja presente no dia a dia de toda a humanidade. É esta a verdadeira essência, e para atingi-la qualquer modalidade de evento pode ser válida, na medida em que for criado e vivenciado com correção no conceito e amor no coração.

PSYTE: O que esperar para 2010? Quanto ao Solaris, já foi cogitado fazer uma nova edição?
ITM: No momento, estamos focados na Tribe10anos. Mas voltar a produzir um Solaris Festival é um sonho do qual não abrimos mão. Mudar de década já tem em si um componente forte de fim de um grande ciclo e começo de um novo. É assim que dividimos nossa historia. No caso da Tribe isso também coincide com o aniversário de 10 anos. É dessa forma que vemos 2010: um momento de balanço e espaço pro novo, um momento em que a qualidade deve falar mais alto do que a quantidade. Isso se traduz no nosso foco na Tribe 10 anos. Mas voltar a produzir um Solaris Festival é um sonho que pode se tornar realidade no futuro, por que não?

Por: Gabriela Loschi

Fonte: Psyte

Nenhum comentário:

Postar um comentário