2010 começou com toda força para a cena eletrônica brasileira. O
complicado vai ser determinar para que lado está indo essa força... se
é que o público me entende. Festas grandes se unindo, parcerias se
desfazendo, proibições (ainda!!) rolando por aí... Aonde isso vai parar?
A
velha polêmica do psytrance permanece, com sua perda de espaço na
cena. Já pode ser considerado uma vertente mais underground, depois da
sua fase mais pop? Bom, nas open airs, assim como nos clubes, outros
BPMs têm dominado as pistas há tempos, mas a batida seca do full on
ainda se mantém firme no palco principal dos principais eventos (ao
menos em alguns horários), e na boca da galera que realmente curte o
estilo.
E acontece também que a música eletrônica cresce, e
cresce mesmo, dia a dia. Ganha mais espaço, onde quer que seja, e nos
mais improváveis ambientes. Só que ela é mutante, e não estática. E
é por isso mesmo que as vertentes se modificam... e acrescentem umas às
outras.
Querendo saber o que está acontecendo com a nossa cena,
como detalhes de parcerias, futuro das festas, o que pensa quem está na
cena, sobre a cena, e muitas outras coisas mais que estão rolando,
estamos realizando algumas reportagens e entrevistas, com o intuito de
deixar você a par de tudo. Ou ao menos tudo o que for possível.
Junte-se
a nós nessa empreitada, onde buscamos entender melhor da onde veio e
para onde estão indo nossas festas. E toda a cena. O futuro é incerto,
mas para ajudar a desvendá-lo, nada melhor do que conhecer o presente e
saber mais sobre o passado.
Então, já de início, apresentamos
essa entrevista (por email) com o pessoal da Tribe. Ou melhor, da
produtora It’s Magic. Desde o (relativamente) misterioso rompimento com
a No Limits, a Tribe tem sido uma incógnita. Já saiu até um boato de
que mudaria de nome. Problemas legais? De visão? De estratégia? Você já
deve ter ouvido o jargão: “Tribe, é Tribe! Sua energia é única, mas ela
já está deixando de ser a Tribe”...
Acompanhe o que Rafael,
Monty e Ariel Dahan, juntamente com o sócio Du Serena, falam sobre sua
“cria”, sobre o que vai rolar no futuro, sobre essência, a cena forte e
as datas para esse ano. Já tem até Tribe marcada, e nós trazemos em
primeira mão! Foi dito o que eles acharam que poderiam e deveriam
falar, diretamente para o público que frequenta suas festas. Saiba para
onde está indo a grandiosa Tribe, e o que pensam seus idealizadores:
PSYTE: Primeiramente, gostaria de saber a que vocês creditam o sucesso dos low BPMs nas festas, de uns tempos pra cá...
EQUIPE IT'S MAGIC:
A pergunta é importante mas precisa ser traduzida melhor. O que se
chama de low bpm engloba muita coisa diferente, no caso tudo que não
seja Full On Trance. Acaba sendo uma generalização que nos afasta de
uma compreensão melhor. Não dá pra dizer que Techno ou House sejam
novidades, pelo contrário, são raízes. Então a pergunta poderia ser:
porque o Techno / Progressive / House etc, ditos "low bpm" ganharam, ou
criaram novos espaços em festas open air?
Esta é uma
convergência onde não é necessário separar tanto os públicos por
vertentes, onde existe uma paixão e um interesse pela música eletrônica
de uma forma mais ampla. Além disso, estilo musical e formato de festa
são coisas distintas, por isso um formato de festa que ficou mais
associado ao Trance não precisa ser necessariamente apenas Trance. O
que houve foi um encontro entre o jeito tranceiro de curtir e fazer
festa com outras vertentes que não o Trance.
Não podemos
esquecer que a música, não apenas eletrônica, é cíclica, nunca fica
parada no mesmo ponto. No caso da eletrônica isso é ainda mais dinâmico
e vivo. Esses diferentes estilos "low bpm", conversam muito entre si e
outros estilos musicais, não eletrônicos inclusive. É um campo mais
aberto musicalmente. Por exemplo, é muito mais fácil mesclar House ,
Techno ou Progressive entre eles num line up ou até num set do que com
Trance. Acho que isso ajuda a explicar esse sucesso.
PSYTE: Em 2010 a tendência continuará essa?
ITM: Sim, se você quer dizer tendência nesse sentido de convergência, acreditamos que vai continuar se aprofundando.
PSYTE: Com que propósito a Tribe foi criada? Este foi alcançado?
ITM: A
Tribe não foi criada com um propósito específico. Surgiu como expressão
livre de um grupo de amigos que se uniu para proporcionar aquela
proposta de “encontro” para eles mesmos e seus amigos.
É muito
difícil dizer o que imaginávamos que a festa viria a ser. Não
pensávamos a longo prazo, mas sempre focados na próxima festa e novas
idéias e necessidades iam surgindo de uma edição para a outra.
PSYTE: Pontue um ponto alto e um ponto baixo da caminhada de vocês...
ITM: Podemos
dizer que a melhor coisa que rolava naquela época [nas primeiras
Tribes], além da festa em si (claro!) era o feedback altamente positivo
das pessoas, dos amigos, depois de uma festa. Era isso o que mais nos
motivava e como nos primeiros anos isso acontecia em 100% das
oportunidades, talvez tenhamos imaginado ingenuamente que seria sempre
assim.
Com o tempo aprendemos que além dos erros que às vezes
cometemos, também muitos fatores não estão sob o nosso controle, como a
natureza e o comportamento das pessoas durante uma festa. E sem dúvida
esses são fatores cruciais para o sucesso de um evento open-air. Ele
não depende só da organização e infelizmente qualquer um deles pode
prejudicar muito uma festa.
Assim, tivemos que aprender a lidar
também com a frustração de que nem sempre uma festa acontece como
imaginamos, planejamos e gostaríamos e que passar por momentos difíceis
faz parte da evolução natural de um evento que hoje caminha para
completar 10 anos de história.
PSYTE: Como aconteceu a união com a No Limits? De quem partiu a ideia, qual era o propósito, e este foi alcançado?
ITM:
A ideia foi nossa. O propósito era que a produção executiva do evento
fosse tocada por uma outra produtora, focando todos os esforços da ITM
para a Tribe na parte conceitual e artística. Dessa forma poderíamos
atender a demanda pela Tribe em outros estados sem perder em qualidade,
que sempre foi a marca da festa.
PSYTE: Porque a parceria terminou de uma hora para outra?
ITM:
A parceria não terminou de uma hora para outra, foi um processo através
do qual as empresas chegaram a essa decisão. É claro que na hora que
isso é comunicado ao público a comunicação é simples e objetiva, mas
isso não significa que a decisão foi tomada repentinamente, de forma
alguma.
PSYTE: Vocês consideram que, de alguma forma, a
essência da Tribe foi perdida, ou ao menos deixada de lado, devido à
união com a No Limits?
ITM: A essência
da Tribe não foi perdida ou deixada de lado. Neste período de 2 anos,
que teve início com a Tribe Rio em out/2007 e que terminou na Tribe
Curitiba out/2009, erros e acertos foram cometidos, o que é natural.
Houve
grandes momentos nesse período, como a realização do sonho de trazer o
Alex Grey (Tribe 7 Anos), com aquela fantástica cenografia e
comunicação que acompanharam a turnê daquele ano e também a Tribe 8
Anos pela Paz. O Minuto pela Paz foi sem dúvida um dos mais incríveis
momentos da Tribe, pelo que agradecemos de coração ao público até hoje.
Mas
é claro que no momento em que são duas produtoras realizando a festa e
não apenas a ITM, como sempre foi, isso influencia muito o evento, é
inegável. E o mesmo pode ser dito para o atual momento. Sendo apenas a
ITM a produzir a Tribe agora, isso também irá influenciar e muito no
futuro da festa.
Faz parte da estratégia da ITM reforçar os
valores que estão presentes no DNA da Tribe. Queremos e vamos buscar
sempre proporcionar uma festa com muita qualidade, em que o público
possa vibrar com novidades, sentindo as raízes da Tribe e celebrando em
Paz.
É apenas assim que nós, também, teremos motivos para celebrar.
PSYTE:
Quais foram as razões da edição especial de aniversário da Tribe não
ter ocorrido ano passado? Dizem que foi por causa de problemas com os
antigos sócios...
ITM: Exatamente
porque o antigo modelo havia se esgotado e sentimos a necessidade de
parar para pensar. Ninguém aqui quer fazer Tribe por fazer. Está
explicado com toda a sinceridade no comunicado oficial divulgado na
época.
PSYTE: Como sabem, houve um boato de que a Tribe mudaria de nome. Isso é 100% mentira?
ITM: Desconhecemos
como surgiu este boato. Quanto à questão de nomes, o que acontece é que
surgiram novas denominações, derivadas da Tribe. Existe o Tribe Club, a
Tribe onBoard, a Tribe em Ação, a Tribe Alex Grey, a Tribe
PsychoGarden, a Tribe da Paz. Com certeza sempre haverá um novo
conceito e um novo nome para batizá-lo. A It’s Magic é uma produtora de
eventos e produz outros eventos, além da Tribe, com os mais diversos
nomes e marcas.
PSYTE: Como ficará o calendário da festa em 2010 e quais novidades o público pode esperar?
ITM: Quanto
às festas Tribe, confirmada apenas a Tribe BH, que ocorrerá em Maio. A
Tribe BH 2009 nos deixou muito felizes e realizados. Tudo isso nos dá a
segurança de um grande evento em BH em 2010. Nos próximos dias
estaremos divulgando os releases do evento. Seguramente alguns novos
conceitos já estarão presentes, ainda que embrionariamente.
Quanto
à Tribe 10 anos, ainda está em processo de gestação. Acreditem, estamos
mais ansiosos que ninguém. Ocorre que produzir esta Tribe, está sendo
um intenso processo de criação, reflexão e debate. Não vamos fazer a
Tribe apenas para cumprir uma meta no calendário. Por isso é que a
Tribe é a Tribe. Quando acontecer, ela será, mais uma vez, um marco, e
uma referência na cena brasileira e internacional da Música Eletrônica
e da Cultura da Paz.
PSYTE: Como criadores do Solaris
Festival, vocês consideram que os festivais mantêm mais a essência
psicodélica do que as grandes festas?
ITM:
Produzir o Solaris Festival foi uma das mais gratificantes experiências
que tivemos, nas duas edições. Daí a dizer que os festivais mantêm mais
a essência psicodélica que as festas há uma diferença enorme. Cada tipo
de evento tem uma característica e uma possibilidade única e diferente.
Cada um pode se aproximar mais ou menos da essência psicodélica
conforme a qualidade e amor com que seja produzido e vivenciado. Não
podemos esquecer que os frequentadores também são parte integrante
desta equação e definem a qualidade do evento também.
Esta é uma
comparação inadequada, é como comparar rádio com televisão; qual dos
dois comunica melhor? Ambos comunicam de maneira diferente, para
necessidades e possibilidades diferentes. É uma comparação injusta. Os
festivais proporcionam uma imersão e uma liberdade de expressão que
dificilmente uma festa de um dia, perto de uma grande cidade, pode
proporcionar. Isso não quer dizer que qualquer festival entre
automaticamente nesse exemplo apenas por ser um festival e vice-versa
no caso das festas de um dia. Afinal estamos falando de essência e não
de forma.
PSYTE: O que é a essência psicodélica, na visão de vocês?
ITM:
É importante fixar o fato de que a chamada essência psicodélica nasce
com a Cultura da Paz, a qual é uma das mais importantes expressões no
mundo moderno. Estar próximo da essência é vivenciar e transmitir a
Cultura da Paz na Terra, e isto pode ser feito de muitas maneiras.
Todas válidas e necessárias. Podemos fazer isto numa pequena ou grande
festa, num festival urbano, num festival longo, longe do movimento das
grandes cidades. Para que chegue o dia em que a Paz esteja presente no
dia a dia de toda a humanidade. É esta a verdadeira essência, e para
atingi-la qualquer modalidade de evento pode ser válida, na medida em
que for criado e vivenciado com correção no conceito e amor no coração.
PSYTE: O que esperar para 2010? Quanto ao Solaris, já foi cogitado fazer uma nova edição?
ITM: No
momento, estamos focados na Tribe10anos. Mas voltar a produzir um
Solaris Festival é um sonho do qual não abrimos mão. Mudar de década já
tem em si um componente forte de fim de um grande ciclo e começo de um
novo. É assim que dividimos nossa historia. No caso da Tribe isso
também coincide com o aniversário de 10 anos. É dessa forma que vemos
2010: um momento de balanço e espaço pro novo, um momento em que a
qualidade deve falar mais alto do que a quantidade. Isso se traduz no
nosso foco na Tribe 10 anos. Mas voltar a produzir um Solaris Festival
é um sonho que pode se tornar realidade no futuro, por que não?
Por: Gabriela Loschi